sexta-feira, 15 de maio de 2009

Café Teológico - "O Evangelho de Marcos"

A disciplina Novo Testamento I do Seminário Teológico Batista do Nordeste promoveu ontem à noite um Café Teológico com a presença do teólogo Marcos Monteiro.
Na oportunidade, o Evangelho de Marcos nos foi apresentado por ele de modo surpreendente e provocador. Uma comunidade cristã de agricultores e camponeses do norte da Palestina teriam ousado escrever um relato sobre o "Filho de Deus", que foi por eles reconhecido no carpinteiro de Nazaré. Esta afirmação teológica percorre todo o Evangelho de Marcos culminando na afirmação do oficial romano: "verdadeiramente este era o Filho de Deus". Assim, representa-se nas palavras do centurião a supremacia de Jesus sobre o próprio imperador romano, que se considerava Filho do Divino. Um importante membro do império declara que o Jesus Nazareno é que era o verdadeiro filho de Deus ao invés do poderoso César.
O Pr. Marcos conduziu a sua apresentação do evangelho através dos espaços e tempos que dão forma e beleza à construção literária. Entre os espaços, destacou especialmente a primazia da Galiléia, espaço periférico, como lugar de florescimento e irradiação da salvação em contraposição à Judéia e Jerusalém, o excessivamente corrompido centro de poder político-religioso. A possibilidade do novo surge da marginalizada Galiléia e não da rigidez e dogmatismo do Templo, principal símbolo da centralização do poder.
Os tempos em Marcos, segundo o professor, são marcados por fórmulas como “e” (kai); “logo” (eltus); e “aconteceu” (egéneto). O texto é montado a partir de várias narrativas e costurado pela comunidade por estas expressões que lhe conferem rapidez e agilidade, bem como refletem o modo próprio de narrar de uma comunidade agrária. Igualmente, estes tempos representam um certo imediatismo vivido pela comunidade diante do conturbado momento de guerra (66-70) e da iminência da derrota judaica frente aos romanos.
Por outro lado, os tempos presentes no evangelho sugerem a possibilidade da irrupção do novo a qualquer momento – “e aconteceu”, “veio”. A história pode contar com os imprevistos e surpresas de Deus. Não há como definir o começo nem o fim da história.
A ousada comunidade de Marcos nos apresenta ainda a ação libertadora de Jesus frente ao sábado, sendo expressa em atos subversivos contra o legalismo opressor dos portadores da Lei. O Jesus da comunidade de agricultores e camponeses restitui o sentido vivificante do dia designado à festa e ao descanso. Ele restaura e liberta pessoas neste dia, embora neste mesmo dia haja quem trame a sua morte.
Monteiro concluiu brilhantemente a sua preleção exaltando a vitória de Jesus sobre a cruz, máquina de matar do império, através da entrega do seu corpo. O perverso símbolo que resume o poder e a violência imperial é transformado em símbolo de amor e doação. Ao terceiro dia o corpo de Jesus ressuscita glorificado, superando a máquina de matar.

Um comentário:

  1. Gostaria de parabenizar o trabalho exposto.A articução das idéias e principalmente a pesquisa apresenta. Sabemos que os textos da literatura canonicas possuem algumas questinamentos que precisa ser melhor elucidado. Mas muito bom o texto.

    Fabrício

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