terça-feira, 23 de junho de 2009

Justificação pela fé

Não são poucas as divergências e as controvérsias teológicas quando se fala em identificar um centro no pensamento de Paulo, o que se acirrará ainda mais em se tratando de todo o Novo Testamento. Fabris (1992) passa em revista diversas interpretações do corpus paulinum, desde os tempos do neotestamentários, passando pelos Pais da Igreja, pela Idade Média, pelos reformadores, até teólogos contemporâneos como Barth, Bultmann, Kümmel e Bornkamm.
Mais recentemente vemos ainda o caloroso debate em torno da justificação pela fé, no qual importantes exegetas, de modo coerente, afastam o aludido tema do centro da teologia paulina. A explanação de Käsemann em “Perspectivas Paulinas” aborda esta discussão com propriedade. Em que pese, entretanto, as argumentações desta corrente, há estudiosos como Joaquim Jeremias que trabalham no sentido de superar as críticas dos anteriores e construir novos ou mais elaborados fundamentos para corroborar a justificação pela fé como cerne do corpus paulinum.
Paulo é visto por Pette como um pensador entre as convicções do evangelho e do judaísmo farisaico. Quando fariseu ele defendia o conceito de “Justificado pelas obras da Lei”, mas ao encontrar-se com o Cristo, ele vai redirecionar as suas convicções e conceitos sem perder suas essências. Ao referir-se à sua nova condição dizendo que morreu para a “lei”, Paulo deixa claro que o termo “Lei” (Tora) refere- se à fé judaica enquanto sistema de convicções.” (Pette, 1987, p. 121). Todavia, ainda que o apóstolo se considere morto para a Lei (Gl. 2.19), continuou com a necessidade de ser justificado, ser justo, como algo imprescindível para poder ver a Deus, ser filho e participante do seu reino. Agora, porém, não mais pela Lei, mas pela Fé em Jesus Cristo filho de Deus, o que não extingue a Lei na ótica paulina. Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei. (Rm.3.31).
Observe que, muito embora Paulo esteja travando fervorosos embates contra “falsos irmãos” que queriam obrigar os cristãos ao cumprimento da lei, considerando que estes estavam invalidando o sacrifício de Cristo, jamais desprezara a lei totalmente. Naturalmente, o desenvolvimento da justificação pela fé foi proveniente principalmente deste embate. Embora, fatores socioeconômicos possam ter instigado o ataque dos judeus à pregação de Paulo, conforme nos alerta Carlos Mesters.
“Paulo fala da Dikaiosyné Theou, a justiça de Deus”. Não apenas como “atributo de Deus”, como aquele que julga, Paulo consegue ver na raiz dessa palavra implicações profundas e escatológica, como a “manifestação da dikaisyné de Deus, estendida para todos.”(Brown, 2004, p. 758).
Paulo usa Justificação para descrever o agir de Deus na vida daqueles que crêem nele por Cristo. “ele foi entregue pelas nossas faltas e ressuscitado para nossa justificação” (Rm.4.25). Deus opera seu ato de justiça não porque o homem é inocente ou merecedor mas, por um só inocente “Jesus Cristo”, revelando assim o tão grande amor de Deus por todos. Isso é graça, não é fruto das obras da Lei, é dádiva de Deus.
Sendo justificados gratuitamente, pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus,
Ao qual Deus propôs para propiciação, pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; (Rm. 3.24.25).
Ser justificado pela fé em Jesus Cristo é estreitar o seu relacionamento com Deus, “Paulo vive para Deus” (Gl.2.19), “já não sou eu que vivo, mas cristo vive em mim (Gl.2.22). Para manter esse relacionamento com Deus, o homem deve manter seu próprio sistema de convicções para que tudo que ele tenha que fazer, faça com dedicação.
No Judaísmo Paulo diz que o sistema de convicções é focado na “Tora” para fazer a obra da “Tora” mantendo assim o seu relacionamento com Deus. Para o cristão essa relação se da por Jesus que nos justifica e nos dá acesso a Deus pela fé.
Para o exegeta alemão Joachim Jeremias, dikaiostai toma um sentido de achar salvação; achar graça; conceder graça, no ativo. Portanto, um uso soteriológico. Entretanto, “quando Paulo fala em achar graça só pela fé, é sempre em oposição à possibilidade de achá-la pelas obras.” (Jeremias, 2005, p. 72)
Em suma, para Jeremias, “a fonte da doutrina da justificação de Paulo é Jesus.” (Idem, p. 88)
Todavia, existem vários teólogos como Albert Schweitzer, William Wrede e Stendahl que defendem uma posição marginal da doutrina da justificação na teologia paulina. Eles afirmam que a doutrina da justificação é uma cratera secundária que se formou no interior do círculo da cratera principal. (Idem, p. 76)
Stendahl, por sua vez, chega à antítese entre a história da salvação, enquanto posição fundamental do apóstolo, e a sua doutrina da justificação como repúdio ao judaísmo, devida à situação contingente do cristianismo primitivo. (Käsemann, 2003, p. 106)
Käsemann, realizando uma análise em perspectiva da pesquisa, considera que “não se pode contestar seriamente o horizonte histórico-salvífico da teologia paulina. Mas com isto ainda não está clara a importância deste horizonte no pensamento do Apóstolo. Assim sendo, o autor passa a apresentar fundamentos para um ponto de vista histórico-salvífico em Paulo. (Käsemann, 2003)
“Assim, Rm 5.12ss mostra claramente que o apóstolo vê a história não como um processo evolutivo em andamento, mas como oposição entre as esferas de Adão e de Cristo. A teologia paulina desenvolve amplamente esta posição como luta entre morte e vida, pecado e salvação, lei e evangelho. (Käsemann, 2003, p. 110)
“Somente um grande equívoco pode fazer do apóstolo um espiritualista, o que surpreendentemente sempre tem acontecido. Para ele a história da salvação tem uma dimensão espacial e temporal, tem limites, que as separam das regiões cósmicas, e tem uma concatenação que, partindo da criação e passando pela eleição de Israel e pela promessa, leva a Cristo e à parusia. (Idem, p. 113)
Por isso, a história é, para Paulo, o êxodo sob o signo da palavra e contra o riso justificado de Sara. A sua continuidade é paradoxal porque ela se mantém somente se a palavra de Deus, contra as realidades terrenas, cria para si filhos e comunidades que abracem a primeira bem-aventurança. (Idem, p. 115)
À guisa de conclusão, apresentando uma proposta teológica para o debate, Käsemann enumera as questões centrais para a presente reflexão e sugere um horizonte hermenêutico.
“Se quisermos ver claramente em que consiste a peculiaridade da teologia paulina da justificação, devemos antes responder a duas perguntas: enquanto doutrina de luta, foi ela condicionada de tal modo pela época, que hoje deveria ser considerada superada? E: orienta-se ela primariamente (como pensa o protestantismo em geral) para o indivíduo, devendo por isso ser completada (ou mesmo substituída) por uma exposição histórico salvífica?” (Idem, p. 117)
“A Basiléia de Deus, [para o autor], constitui o conteúdo da doutrina paulina da justificação. O apóstolo exprime isso geralmente em linguagem antropológica porque quer que a nossa vida seja determinada por ela. A Basiléia de Deus se faz presente onde somos ou nos tornamos plenamente humanos. Do contrário, ela seria uma ilusão. A cristologia encerrada na doutrina da justificação corresponde à existência vivida dia a dia no mundo.” (Idem, p. 124)
“Sendo assim, a história da salvação não é o cumprimento e nem o sucedâneo da justificação; é a sua profundeza histórica e, portanto, um de seus aspectos. Sem a fé na justificação do ímpio, não se pode compreender adequadamente nem a Escritura e nem o mundo. Não se pode opor a justificação à história da salvação; isso levaria ao individualismo ou à ideologia, e, em ambos os casos, Deus não seria mantido como criador do mundo. A justificação é o horizonte da história da salvação, que permanece o meio, o começo e o fim da salvação. (Idem, p. 125)

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BROWN, Raymond. Introdução ao Novo Testamento. Trad. Paulo F. Valério – São Paulo: Paulinas, 2004. (Coleção Bíblia e História Série Maior)
FABRIS, Rinaldo. As Cartas de Paulo. Trad. José Maria de Almeida. São Paulo: Loyola, 1992.
JEREMIAS, Joachim. A mensagem central do Novo Testamento. Tradução João Rezende Costa – São Paulo: Ed. Academia Cristã, 2005.
KÄSEMANN, Ernst. Perspectivas Paulinas. Tradução Benôni Lemos. 2ª ed. São Paulo: Teológica, 2003.
PETTE,Daniel. Paulo, sua fé e a força do Evangelho. São Paulo: Paulinas, 1987.

O Evangelho de Lucas - Café Teológico (Dr. Ágabo Borges)

Método: forma ordenada.
Chave Hermenêutica: “Teófilo”, o possível amigo de Deus
O texto acontece dentro de um contexto e vai se desenvolvendo. “Por este menino orava eu; e o Senhor me concedeu a minha petição, que eu lhe tinha pedido (I Sm. 1.27). E o menino crescia, e se robustecia em espírito. E esteve nos desertos, até ao dia em que havia de mostrar-se a Israel (Lc.1.80)”. Essas historias se entrelaçam e vão tomando corpo. Quando Lucas fala da manjedoura em (Lc.2.12), podemos também fazer um contraponto com ( Lv.12.), e isto afirma de forma ordenada como tendo uma trajetória.
O conteúdo do evangelho de Lucas é o Reino de Deus, sendo este reino para os pobres e para as crianças, porque são esses que estão na dependência. O reino não é apenas transcendente pois ele acontece no tempo e no espaço.
1.E, CONVOCANDO os seus doze discípulos, deu-lhes virtude e poder sobre todos os demônios, e para curarem enfermidades;
2.E enviou-os a pregar o reino de Deus, e a curar os enfermos.
3.E disse-lhes: Nada leveis convosco para o caminho, nem bordões, nem alforje, nem pão, nem dinheiro; nem tenhais dois vestidos. (Lc.9.1-3).
O reino de Deus se faz presente entre nos com o seu poder, seu anuncio e a restauração de vidas. Poder não sobre o outro semelhante mas sobre os demônios e as doenças, aquele quês que são enviados para anunciar não levam apenas a mensagem mas, o próprio reino que é evidenciado com as curas e a comunhão. Os discípulos só levam o reino de Deus, não levam alfoge nem pão para assim poderem fazer possível a partilha que é essencial.
Quem são os discípulos de Jesus?
3,5,12,70? Quantos são?
Em Lucas 10.38-42, podemos observar dois modelos de discípulos: Marta e Maria. Discípulo que serve e discípulo que aprende. O assentar-se é atitude de discípulo é foi o que Maria fez, assentou-se aos pés de Jesus assim como Paulo se assentou aos pés de Gamaliel em (At.22.3.). Lucas não deixa as mulheres anônimas, ela são destaques no reino de Deus, e como discípulas são confiam no seu mestre e não esquece dos seus ensinamentos, como podemos ver em (Lc.24.5-6).

A comunidade lucana se situa na palestina e tem vivencia na galiléia.
Jesus é formado na escola de João o batismo é a formatura.
Havia um intercambio entre essas duas escolas, os discípulos de João querem saber de Jesus, os discípulos de Jesus querem aprender a orar como os discípulos de João.

sábado, 20 de junho de 2009

A Relação de Paulo com as Mulheres.

Por muito tempo, alguns textos das cartas de Paulo, tais como o de I Coríntio 14:34 e 35, me incomodaram bastante, pois me sentia ofendida, creio que esta seja a melhor palavra para definir meu estado. Não conseguia compreender como o apóstolo Paulo poderia ser tão duro com as mulheres neste texto... Ficava indignada e intrigada, pois os discursos que ouvia até mesmo por parte de alguns na igreja eram sempre machistas, que chegavam a usar estes textos para impor decisões, para proibir que mulheres tivessem certo destaque em suas comunidades de fé, e tinham ainda aqueles famosos comentários acerca do lugar das mulheres. Confesso que quando cheguei ao seminário ainda tinha certo constrangimento ao ler estes textos... Lembro-me que alguns amigos e colegas de curso me diziam que Paulo era um revolucionário, que lutava pelos direitos femininos... Às vezes eu até tentava me convencer disso, mas aí, entravam alguns discursos feministas que “acabavam” com a reputação de Paulo, alguns textos que lia trazia a imagem de Paulo como um anti-mulher... E por causa das inquietações (ficava me perguntando como poderia Paulo ser um revolucionário e MANDAR as MULHERES ficarem CALADAS? Que tipo de “REVOLUÇÃO” era esta?), angústias e até mesmo preconceitos que eu já havia adquirido ao longo dos anos, não conseguia desmistificar esta imagem, digamos que, arrogante deste apóstolo.
Mas nosso objetivo como pessoa deve ser o de sempre melhorar, crescer, e entendo que para que isto ocorra, nós precisamos estar sempre abertos a novos conhecimentos, e particularmente, posso dizer hoje que aquela imagem “arrogante” do apóstolo Paulo está sendo desconstruída com as leituras que tenho feito para a realização deste trabalho.
Carlos Mesters (1) mostra em seu livro (Paulo Apóstolo: Um trabalhador que anuncia o Evangelho- 2008) que a relação de Paulo com as mulheres é de um profundo respeito pelo trabalho exercido por elas nas comunidades que fundou e ainda agradece e elogia seus esforços.
É bem verdade que alguns dos textos de Paulo trazem principalmente para nós, mulheres, uma dificuldade por nos colocar em uma posição inferior aos homens, mas, precisamos ler estes textos “pensando com a cabeça” daquela época. A cultura e a consciência que temos hoje não são as mesmas daquele tempo quando se fala da participação da mulher nas comunidades, e se ainda hoje nós sofremos preconceitos a este respeito, naquela época era tudo ainda mais difícil. E olhando por este lado, estes mesmos textos de Paulo que é para muitas mulheres, assim como foi pra mim também, um exemplo de machismo, opressão, e retrocesso, pode muito bem ser considerado como um avanço para as comunidades daquela época. Carlos Mesters também nos esclarece que estes textos na maioria das vezes querem resolver problemas de determinadas comunidades, portanto, não devem ser vistos como “leis Universais”.
Com relação a outros textos de Paulo que nos causam dificuldade para lê-las como os de I Cor: 11:2-16 Ef. 5: 21-24 e I Tm. 2:9-15 estes também devem ser lidos com mais cautela, para que novamente nós não sejamos discriminadas; estes também são textos que para uma melhor compreensão nós precisamos verificar o contexto em que estão inseridos. Na verdade, Paulo não é contra as mulheres receberem instruções ou falarem, ele diz que as mulheres devem receber instrução sim, podem ser líderes de comunidades a até profetizarem, o que é, com certeza, um avanço para a época, e como prova disto, nós temos o texto de Romanos 16, onde Paulo traz uma lista com vários nomes de mulheres que foram suas cooperadoras na missão de evangelizar.

“... Paulo fala com toda naturalidade de mulheres que são diaconisa, colaboradoras em Jesus Cristo, ou apóstola. Títulos e funções importantes na vida das comunidades! Elas são apresentadas como alguém que se afadigam pelos outros nas comunidades. As comunidades e o próprio Paulo devem muito a algumas delas, pois elas o ajudaram e arriscaram a própria vida por ele.” (pág. 98)

Para Fiorenza (2), Paulo é ambíguo. Ora ele estava a favor da mulher, ora ele era rígido com elas. Na verdade, era como se tivesse um primeiro Paulo que era, digamos, mais a favor das mulheres, mas com o passar do tempo, esse Paulo foi se “transformando” e sendo mais duro com elas. Fiorenza, juntamente com outras exegetas feministas, afirmam que mesmo não tendo sido de Paulo o texto em que ele manda que as mulheres fiquem caladas, é de uma escola Paulina, ou seja, de alguma forma Paulo contribuiu com aquela mentalidade.
Marga J. Stroher (“A Igreja na Casa Delas”) e Luise Schottroff (Exegese Feminista) vão dizer que o texto de Romanos 16 é a chave de leitura para a história das mulheres nas primeiras comunidades cristãs. Quando lemos este texto, nós podemos perceber claramente que o apóstolo Paulo faz agradecimentos a dez mulheres, sendo que cinco delas aparecem sem a presença de uma figura masculina. Estas dez mulheres são diaconisas, apóstolas, missionárias e cooperadoras. Paulo começa citando Febe, que era diaconisa da igreja em Cesaréia, por ter um papel de destaque na comunidade em que vivia, ela recebeu dois títulos muito importantes Diakonos, que significa “servo” e Prostatis, que foi usado uma única vez em todo o Novo Testamento e é traduzido por “patrona” ou “protetora”. é bom observarmos que Febe recebeu o título de Diakonos que é masculino e não o feminino que seria Diakone, o que comprova que Febe tinha as mesmas funções que os homens. Logo depois ele cita Priscila e seu marido Áquila, ela era independente de Paulo e foi uma missionária e cooperadora na missão cristã. O fato de o nome dela aparecer sempre antes do nome de seu marido Áquila, mostra a sua importância na comunidade. Júnia foi a única mulher a receber o título de Apóstola no Novo Testamento, ela foi parceira missionária de Andrônico, e se tornaram cristãos antes mesmo de Paulo. Por algum tempo tentaram passar a idéia de Júnia era na verdade um homem, mas não conseguiram sustentar esta idéia por muito tempo. Por certo, Júnia foi uma mulher muito sábia para ter recebido o título de apóstola. Como missionárias independentes Paulo cita Maria, Trifena, Trifosa e Pérside. Estes nomes não vêm acompanhados de nenhum outro nome masculino. Segundo Paulo, elas foram mulheres que labutaram no Senhor, a palavra labutar era usada por Paulo para caracterizar a tarefa de ensinar e evangelizar, ou seja, eram mulheres que ensinavam o povo acerca de Deus. Eram mulheres dignas de respeito e consideração. O texto ainda traz o nome de Júlia, a irmã de Nereu e a mãe de Rufo, estas duas últimas não têm seus nomes citados, mas o fato de Paulo fazer menção delas nos faz colocá-las ao lado de outras mulheres que participaram do movimento cristão primitivo.
Este texto de Romanos 16 é muito importante para nós hoje porque nos faz perceber uma nova perspectiva de vivência religiosa nos primórdios do cristianismo. As leituras sobre a “pesquisa histórico-feminista deve livrar o apóstolo Paulo de uma leitura bíblica patriarcal.
Como nós sabemos, antigamente, os estudos de filosofia e retórica eram reservados aos homens, com algumas exceções femininas. Na maioria das vezes, o papel de falar e ensinar eram destinados aos homens, inclusive nas sinagogas, mas algumas mulheres ainda conseguiam desempenhar este papel, o que não era uma norma para aquele tempo. Nos vários textos lidos, pude perceber que muito embora os papéis das mulheres variassem de região para região, no que diz respeito às mulheres, Paulo, esta mais para um autor progressista do que chauvinista para o seu tempo. Até mesmo quando ele diz que a mulher deve profetizar com a cabeça coberta, pressupõe-se que existam profetizas, tudo o que Paulo faz é, seguindo uma tradição do Antigo Testamento e outros elementos do cristianismo primitivo, ou seja, exigir que as mesmas usem véu. É bom percebermos também, como Carlos Mesters mesmo fala que as cartas de Paulo são escritas para determinadas comunidades a fim de ajudar a resolver problemas específicos, não podendo ser usado e entendido de uma forma geral como norma para todas as comunidades e situações. Pude perceber também em minhas leituras que alguns autores bem conceituados também entendem Paulo como uma figura progressista. Na questão da submissão, Paulo primeiro convoca a todos que se submetam uns aos outros, os deveres devem ser entendidos como recíprocos, e os deveres aos quais, Paulo se refere devem ser entendidos com o sentido que tinham naquela cultura. Paulo realmente apela às esposas que se submetam em certo sentido aos seus maridos, talvez para manter a ordem, mas tudo deve ser feito no temor do Senhor. Paulo, vivendo em um contexto totalmente patriarcal, abre espaço para as mulheres, elas, que antes não podiam sequer entrar nas sinagogas, agora podem entrar, e seus maridos devem ensiná-las em casa, para manter a ordem nos cultos, se esta for a vontade delas; Como todos sabemos, as mudanças não acontecem de forma rápida, elas levam um determinado tempo para serem aceitas, o mesmo deve ter acontecido naquele tempo com Paulo, suponho que não deve ter sido fácil para ele abrir este espaço para aquelas mulheres, quantas pessoas devem ter se levantado contra ele, mas ele não voltou atrás, e nem deixou de contar com a ajuda feminina em sua missão. Percebo que Paulo foi o mais ativo promotor do ministério das mulheres no Novo Testamento. De fato Lídia, Evódia e Síntique tiveram um papel ativo na evangelização de Filipos, e Paulo situa a participação delas precisamente no mesmo nível que a dos apóstolos homens. Ele reconhece Febe como uma líder da igreja de Cêncris, o porto mais ao leste de Corinto. Priscila liderava uma igreja doméstica com seu esposo, primeiro em Éfeso e depois em Roma. Ápia era uma integrante do comitê de três pessoas que dirigiam a igreja de Colossos. Em Corinto, Paulo assumiu como dado que as mulheres, assim como os homens, podem orar e profetizar nas assembléias litúrgicas. A profecia para Paulo é um dom de liderança, e a oração articula publicamente as necessidades da comunidade. São papéis de liderança.
De acordo com Gênesis 2, o homem foi criado antes da mulher. Os judeus usavam essa diferença cronológica para provar que as mulheres eram inferiores. Paulo refuta esse argumento indicando que, de acordo com a vontade de Deus, todo homem hoje tem uma mãe. Por isso, se o argumento cronológico é invocado, isso prova que o homem é inferior. Em 1 Coríntios 11:11, Paulo insiste que a mulher é totalmente igual ao homem na Igreja.
Com relação ao texto de 1 Cor 14, 33b-35, há ainda alguns estudiosos que defendem que essa seção não tenha sido escrita por Paulo, uma vez que em momento algum nos escritos aceitos como autênticos paulinos, ele deixa de falar da presença de mulheres na proclamação da Boa Nova, mulheres que muitas vezes já lideravam nas igrejas domésticas das comunidades. A presença feminina é menos comentada nas cartas consideradas deuteropaulinas, ou seja, as pastorais, mas isso não é só com as mulheres, também se percebe uma diminuição nas menções sobre as crianças, escravos, pessoas doentes e aqueles que viviam à margem da sociedade por alguma discriminação.
Enquanto vivo, Jesus pregou o amor, não somente pregou, mas viveu, e amar é atitude de incluir, e não marginalizar, oprimir, como infelizmente ainda vemos acontecer em nossos dias. Vemos muitos lideres fazendo leituras extremamente fundamentalistas e machistas para fundamentarem seus ensinos.
Vivendo em um tempo em que todos eram machistas, patriarcais, Paulo usa uma linguagem muito feminina em suas cartas (com dores de parto, filhinhos...) para descrever seu próprio ministério, o que não era comum para aquela época. Ele deu uma abertura para que as mulheres pudessem ter acesso às sinagogas, mesmo devendo ficar caladas, pois antes as mulheres ficavam em casa e somente seus maridos iam pras sinagogas.
Como a graça está baseada na natureza, não surpreende que as mulheres apareçam tão freqüentemente entre os líderes das igrejas paulinas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1. MESTERS, Carlos. Paulo Apóstolo um trabalhador que anuncia o Evangelho. 9ªed. São Paulo: Paulus, 1991.
2. FIORENZA, Elisabeth Schussler, 1939-, As origens cristãs a partir da mulher: Uma nova hermenêutica/ São Paulo: Edições Paulinas, 1992.
3. STROHER, Marga J. A Igreja na Casa Delas; Ensaios e Monografias -12, IEPG, 1996.
4. SCHOTTROFF, Luise. Exegese Feminista: Resultados de pesquisas bíblicas na perspectiva de mulheres/ Luise Schottroff, Sílvia Schroer e Marie- Theres Wacker; tradução de Monika Ottermann. São Leopoldo: Sinodal/EST; CEBI; São Paulo: ASTE 2008.
5. Dicionário de Paulo e suas Cartas; Edições Loyola; Paulus; Vida Nova.


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NOTAS:
1- Carlos Mesters, formou-se em Teologia e Ciências Bíblicas em Roma e na Escola Bíblica de Jerusalém. Foi professor no Instituto Central de Teologia e Filosofia da Universidade de Belo Horizonte. Nasceu na Holanda, mas há muitos anos vive no Brasil, totalmente adaptado a nossa mentalidade e nosso estilo. Tem uma linguagem simples que faz com que ele seja compreendido por todos facilmente.

2- Elisabeth Schussler Fiorenza é professora de Novo Testamento e de Teologia na Universidade de Notre Dame. Teóloga feminista alemã, residente nos EUA, autora de diversos livros que tratam sobre as funções das mulheres na igreja e a teologia.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Apóstolo Paulo: vida, formação e ministério.

A vida
O apóstolo Paulo tem a sua vida dividida da seguinte maneira: do nascimento aos 28 anos – judeu observante; dos 28 aos 41 anos – o convertido fervoroso; dos 41 aos 53 anos – o missionário itinerante e dos 53 até a morte, presumivelmente aos 62 anos – o prisioneiro e organizador das comunidades. [1] (MESTERS, Carlos. Paulo Apóstolo: Um Trabalhador que anuncia o Evangelho). Ou ainda: estudante farisaico; rabi perseguidor; aprendendo o Cristianismo; líder missionário e orientador das igrejas. [2] (ROBERTSON, A. T. Épocas na vida de Paulo).
Paulo nasceu em Tarso, região da Cilícia, Ásia Menor, atual Turquia. Tarso era uma cidade grande. Tinha 300.000 habitantes e suas ruas eram estreitas e as casas pequenas. Era um importante centro cultural e comercial. Possuía um porto ativo e estava localizada na estrada romana que ligava o Oriente ao Ocidente. Em Tarso a cada quatro anos realizavam-se os jogos de atletismo: corridas, lutas, lançamento de disco, tiro ao alvo etc. Tarso é hoje um pequeno povoado.
Em quase todas as cidades romanas havia bairros dedicados aos judeus, cada um com uma sinagoga. A comunicação entre a sinagoga e o Templo em Jerusalém era muito intensa. Isto explica o fato de Paulo ter nascido em Tarso, mas educado em Jerusalém. Como judeu foi criado dentro das exigências da lei de Deus e das tradições paternas. Os judeus da diáspora eram praticantes. Estima-se que a população judaica na diáspora era o dobro dos habitantes judeus na Palestina. [3] (BORNKAMM, Günther. Paulo: vida e obra). Paulo descende de uma família rigidamente judaica que vivia na diáspora.

A formação
O apóstolo Paulo recebeu sua formação básica na casa dos seus pais, na sinagoga e na escola. Além disso, recebeu formação em Jerusalém, estudando aos pés de Gamaliel. Mas também recebeu a educação de um grande centro como era Tarso. Por certo, os jogos realizados em Tarso influenciaram Paulo, pois ele cita-os fazendo comparação: 1 Coríntios 9.25, Filipenses 3.12-14, 1 Coríntios 9.26, 2 Timóteo 4.7. A preparação teológica no contexto judaico também deu a Paulo a aprendizagem de uma profissão, daí a formação de Paulo para o artesanato com o couro. [4] (BORNKAMM, Günther. Paulo: vida e obra).
Paulo era fabricante de tendas, ofício que aprendeu com o pai. Paulo era cidadão romano, pois seu pai ou avó pôde adquirir a cidadania. Como cidadão era membro oficial da cidade. Os seguintes títulos situam Paulo entre a elite: cidadão romano, líder nato, membro ativo da comunidade, formado para tomar conta da oficina do pai.
O pai de Paulo deve ter sido um judeu que serviu como “auxiliar”, precisamente como um fazedor de tendas, botas e cobertores de couro para o exército romano e ganhou a cidadania por algum serviço especial. [5] (GILLIAN, C. The social status of Pau)l. Portanto Paulo provém de uma família que goza de seus direitos plenamente.

O ministério
Paulo tinha 28 anos de idade quando da sua experiência. Nesta época tinha poder e prestígio. Aos 41 anos tornou-se um missionário. Neste período o imperador era Cláudio (41-54) e depois Nero (54-67). Partindo do itinerário apresentado por Atos, Ronald Rock chega à conclusão que Paulo viajou cerca de 10 mil milhas (16 mil km). Nestas viagens encontrou funcionários do governo, mercadores, peregrinos, enfermos, carteiros, turistas, escravos fugitivos, prisioneiros, atletas, artesãos, mestres, estudantes etc. [6] (ROCK, Ronald. The social context of Paul's ministry). As viagens eram muito difíceis. Só as grandes estradas romanas é que possuíam hospedarias a cada 30 km para oferecer segurança aos viajantes. [7] (MESTERS, Carlos. Paulo apóstolo: Um trabalhador que anuncia o evangelho). Um navio antigo comum podia fazer 160 km por dia. A cavalo percorria-se cerca de 35 a 40 km por dia e a pé de 25 a 30 km. [8] (MEEKS, Wayne A. Os primeiros cristãos urbanos: O mundo social do apóstolo Paulo).
Uma das marcas indiscutíveis de Paulo foi o sofrimento que teve durante sua vida ministerial. Suas cartas relatam estes sofrimentos: 1 Coríntios 4.9-13 – marcas da cruz de Cristo; 1 Coríntios 16.8-10 – adversários e tribulações; 1 Coríntios 15.32 – lutas; 2 Coríntios 7.5 – conflitos e temores; Gálatas 4.11-15 e 2 Coríntios 12.7 – enfermidades (talvez acessos de malária); 2 Coríntios 11.23-33 – elenco completo de sofrimentos: prisões; açoites; perigos de morte; fustigado com varas; apedrejado; naufrágio; perigos nas viagens, nas cidades, nos mares, entre judeus, entre gentios, nos rios; fome e sede; frio e nudez; etc.
Além dessas referências, encontramos declarações paulinas sobre a fraqueza: “Deus escolheu as coisas fracas do mundo” (1Co 1.17); “Foi em fraqueza que estive entre vós” (1Co 2.3); “Sinto prazer nas minhas fraquezas” (2Co 12.10); e outros. Paulo aprendeu que a “fraqueza humana proporciona o melhor motivo para a manifestação do poder de Deus”. [9] (SANDERS, J. Oswald. Paulo: o líder).
O que mais influenciou a teologia de Paulo não foi sua experiência de conversão, seus estudos etc., mas, sim, a soma de todas as vivências ministeriais do apóstolo, especialmente sua profissão como artesão, sua origem étnica, suas experiências como prisioneiro e os contatos com os povos das cidades e províncias submetidas ao poderio do império romano. [10] (TAMEZ, Elsa. Contra toda condenação). Dessa forma, podemos perceber que o contexto em que o apóstolo exerceu seu ministério foi determinante para a elaboração das lições que ele deixou escritas em suas cartas, sobretudo as sobre o ministério.
Como prisioneiro teve a possibilidade de tomar conhecimento dos termos jurídicos e forenses da época. Muitos destes termos são usados nas suas cartas para falar da justiça de Deus, falar de castigo, julgamento etc. Como prisioneiro e cidadão romano teve a possibilidade de defender-se e assim apresentar o evangelho. Nem sempre gozou do privilégio de cidadão romano, pois ele mesmo afirma que passou por açoites, varadas, sofrimentos diversos nas prisões etc.
A cruz, na pregação de Paulo (1Co 1.18-25), evidencia as fraquezas do apóstolo e a experiência que teve com a mensagem da cruz. Soube entender a mensagem da cruz e descobriu que não podia falar da vida na sua plenitude sem falar da cruz. No texto de 1 Coríntios ele declara o significado da cruz para os cristãos.
“É sempre sobre a fraqueza e humilhação humana, e não sobre a força e confiança do homem, que Deus escolhe edificar seu Reino; e ele pode usar-nos não meramente a despeito de nossa mediocridade, incapacidade e enfermidades desqualificadoras, mas precisamente em virtude delas. É isto uma descoberta emocionante que pode revolucionar nosso panorama missionário.” [11] (STEWART, James S. Thine is the Kingdom).


Referências Bibliográficas
[1]
MESTERS, Carlos. Paulo Apóstolo: Um Trabalhador que anuncia o Evangelho. São Paulo, SP: Edições Paulinas, 1991, p. 13.
[2]
ROBERTSON, A. T. Épocas na vida de Paulo. Rio de Janeiro, RJ: JUERP, 1982.
[3]
BORNKAMM, Günther. Paulo: vida e obra. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1992, p. 33.
[4]
BORNKAMM, Günther. Paulo: vida e obra. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1992, p. 40.
[5]
GILLIAN, C. The social status of Paul. The Expository Times, University of Liverpool, p. 110.
[6]
ROCK, Ronald. The social context of Paul's ministry. Philadelphia: Fortress Press, 1980, p. 26.
[7]
MESTERS, Carlos. Paulo apóstolo: Um trabalhador que anuncia o evangelho. São Paulo, SP: Edições Paulinas, 1991, p. 37.
[8]
MEEKS, Wayne A. Os primeiros cristãos urbanos: O mundo social do apóstolo Paulo. São Paulo, SP: Edições Paulinas, 1992, p. 35.
[9]
SANDERS, J. Oswald. Paulo: o líder. São Paulo, SP: Editora Vida, 1986, p. 174.
[10]
TAMEZ, Elsa. Contra toda condenação. São Paulo, SP: Paulus, 1995, p. 68.
[11]
STEWART, James S. Thine is the Kingdom. Edinburgh: St. Andrews Press, p. 23.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Considerações: Essa postagem contem um texto já existente no blog, porem com informações complementares referentes à fonte de pesquisa do mesmo, e logo após segue-se uma pesquisa sobre as comunidades de Tessalônica, Colossos, e Corinto, espero poder ajudar com essas informações na compreensão e na leitura das mesmas.
Josenelio de Mendonça Alves


COMPOSIÇÃO SOCIAL DAS COMUNIDADES PAULINAS

BASEADO NO LIVRO*HISTÓRIA SOCIAL DO PROTOCRISTIANISMO, DE EKKEHARD W. STEGEMANN, E WOLFGANG STEGEMANN , PUDE TER UMA IDÉIA DE QUE NAS COMUNIDADES PAULINAS ENCONTRAVA-SE UMA DIVERSIDADE DAS CLASES SOCIAIS DA ÉPOCA,. INDO DO ESTRATO SUPERIOR ATÉ O INFERIOR.
ESSA ERA UMA DAS QUESTÕES MAIS DELICADAS PARA PAULO, QUE TANTO INSTRUIA OU RICO, COMO AO POBRE, COMO DEVERIA AGIR UM COM O OUTRO; NUMA COMUNIDADE ONDE TANTO HAVIA O ESCRAVO, COMO O SENHOR DE TERRAS, O QUE SE CONFIRMA NA CARTA A FILEMOM, QUE ERA UM PROPRIETARIO DE TERRAS E DE ESCRAVOS, E VEMOS PAULO INTERSEDENDO POR ONESIMO ANTE ELE ,E COMO ONESIMO, VIVIAM OUTROS ESCRAVOS, AMPLIATO, URBANO E TARSO(RM. 6:8-22).
DO EXTRATO SUPERIOR NÃO SE TEM MUITOS RELATOS ,POREM PODEMOS DESTACAR DESSES:
*FILEMOM, EM COLOSSOS ; QUE ERA DONO DE TERRAS E DE ESCRAVOS.
* PRICILA E AQUILA, EM ROMA; CASAL JUDAICO DE ARTIFICES QUE APESAR DE NÃO SER ENQUADRADO NO ESTRATO SUPERIOR TINHA BÕAS CONDIÇÕES FINANSEIRAS.
* ESTEFANAS, EM CORINTO; TAMBEM ERA PROPRIETÁRIO DE CASAS ONDE OS CRENTES SE REUNIAM.
* FEBE, QUE TINHA PERTENSIDO AO ESTRATO SUPERIOR BEM CENCREIA, TINHA RIQUESAS COMO TAMBEM INFLUENCIAS SOCIAIS E JURIDICAS, E TAMBEM PRSTAVA AUXILIO ECONÔMICO À COMUNIDADE E A PAULO, SENDO QUE O MESMO A CHAMOU DE PATRONA (TITULO DADO A PESSOAS QUE EXERCIAM ALTORIDADE SOBRE A COMUNIDADE)
* GAIO, CIDADÃO ROMANO, POSSUIA UM CASA SUFICIENTIMENTE GRANDE PERA REUNIR TODOS OS CRENTES EM CRISTO NA CIDADE DE CORINTO.
CONFIRMANDO ASSIM UMA ESCALA SOCIAL AMPLA NAS COMINIDADES PAULINAS.

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*STEGEMANN, W. Ekkehard, Wolfgang._ Historia Social do Protocristianismo, (Os primórdios no judaísmo e as comunidades de Cristo no mundo Mediterrâneo) Pgs. 325-334











Contraste entre as comunidades de Tessalônica, Filipos e Corinto dentro de uma visão social.

Tessalônica:
A cidade de Tessaônica possuía uma população heterogenia, onde alem dos macedônios e gregos, muitos italianos, sírios, egípcios, e judeus iam àquela cidade para tentar melhorar a vida, porem a realidade era outra, pois a cidade era sustentada pelos altos impostos cobrados aos povos dominados, e a pobreza alcançava os milhares, sendo fortalecida somente uma elite apoiada pelo governo romano. No tempo do cristianismo ela era a cidade mais importante da Macedônia, porque Roma havia construído varias estradas importantes que passavam por ela e porque ela possuía um porto importantíssimo que favorecia o comercio na mesma.
E a comunidade de Tessalônica era formada na sua grande maioria pela classe menos favorecida, que eram os, escravos , trabalhadores de construção civil, pescadores, peões da agricultura, metalúrgicos, artesões, trabalhadores da construção naval, desempregados, e todos aqueles que faziam os trabalhos pesados, Paulo chega a mencionar a pobreza das comunidades da Macedônia para confrontar os coritios, no que se tratava da coleta anual, para ajudar a comunidade de Jerusalém.
* “Os três evangelizadores que escreveram 1 Ts. (Paulo, Silvano, e Timóteo), criticaram os medrosos , os indisciplinados, e os fracos que não participavam das organizações dentro da igreja, e mostravam que a consciência de classe vem da pregação da Palavra de Deus que produz efeito(Ts. 2:13-14), aos poucos a classe dominante começava a ser incomodada pelos cristãos(que eram os dominados); particularmente os judeus aliados ao poder romano, eram os primeiros perseguidores, pois temiam que sua religião fosse confundida pelos mesmos, com a seita dos cristãos.”
Em tessalônica o evangelho era o anuncio dos irmãos pobres à margem do sistema imperial romano, convocados a se organizarem (1 Ts.4:9-12).
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*Revista estudos bíblicos nº 25, 1990, vários autores: Pg. 13




FILIPOS:
A situação da cidade Filipos não era tão diferente da de tessalônica, pois as duas estavam na mesmas região, porem Paulo faz mansão de algumas atitudes dessa comunidade que nos faz entender que ela não era rica, mas também não era miserável, como poderíamos entender se fossemos levar ao pé da letra a expressão usada por ele (abismal pobreza), quando se fala de comunidades da Macedônia,(2 Cor. 8:2), pois as mesmas colaboravam freqüentemente e de maneira bem generosa com os irmãos de Jerusalém, e com o apóstolo, motivo pelo qual o mesmo as elogia muito, dando-as como exemplo para as outras comunidades, claro que isso não nos faz entender que seus membros faziam parte da classe alta mas que muitos deles tinham algum tipo de renda,(como o exemplo de Lídia que era vendedora de púrpura,produto caríssimo; a mesma hospedou o apóstolo em sua casa, ela é citada por Lucas em At.16:14-15),que os possibilitavam de sempre estarem colaborando com a coleta anual, e com o sustento do apóstolo Paulo, e podemos ver essa realidade quando Paulo comenta sobre as ajudas que ele recebeu dos filipenses,(Fl.4:16 e 2 Cor.11: 9 ), alem dos gastos com o emissário, Epafrodíto, que passava meses viajando por conta da comunidade para levar os mantimentos para o apóstolo, isso mostra principalmente o caráter da comunidade, que era profundamente cuidadosa com o seu fundador.
Quanto à formação étnica dessa comunidade pode-se destacar os judeus (pelo fato de Paulo sempre ter pregado nas sinagogas), gregos e macedônios por serem habitantes daquela cidade, e romanos porque muitos soldados aposentados escolhiam aquela cidade para morarem,e muitas pessoas com costumes pagãos haviam se convertido ao cristianismo, trazendo para aquela comunidade uma variedade muito ampla de culturas.
A INSTITUIÇÃO DOS LIDERES:
Paulo pôs no lugar dos presbíteros, os bispos e os diáconos, nomes esses que faziam parte das instituições gregas, querendo eliminar qualquer tipo de ligação com as sinagogas, também começaram a aparecer as lideranças femininas, que por sinal Paulo exorta a permanecerem em harmonia por estarem tendo problemas de rivalidade de ministérios, encarregando a Sizigo ajuda-las a recuperar a paz, os nomes dessas mulheres eram; Evodia e Sintique, no mundo grego era normal mulheres ocuparem cargos de liderança, e houveram muitas conversões das mesmas, que continuavam ocupando o mesmo papel na comunidade, e Paulo como judeu teve que aceitar essa situação.
* “ Aos olhos de Paulo uma comunidade como a de Filipos é uma ilha de luz e de perfeição no meio de um mundo condenado a morte”
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*Revista estudos bíblicos nº 25, 1990, vários autores: Pg. 42



CORINTO:
Quando se fala de comunidade de Corinto vale-se salientar que é considerada a comunidade paulina mais conhecida, a mesma pertencia a uma cidade muito importante, bem situada geograficamente perto do ponto que ligava a península Peloponeso ao sul e ao restante da Grécia, todo comercio entre o norte e sul da Grécia deveria passar por ela, e alem disso ela se tornou zona de confluência entre o leste e o oeste do Mediterrâneo, pois através dela o trajeto dos navios era diminuído e muito, e tudo isso levou Corinto a ser considerada um dos centros comerciais mais importantes do mundo antigo.
Alem do crescimento comercial a cidade também crescia na área industrial, com a produção de cerâmica, de bronze , e do artesanato em geral , também os jogos instimicos, traziam uma renda muito grande para a cidade, promovendo com isso um crescimento bancário, e muitos estrangeiros iam a essa cidade tentar a vida em alguma forme de trabalho, inclusive o próprio Paulo trabalhou nela fazendo tendas.
Com essa realidade haviam em Corinto pessoas das diversas classes sociais, religiosas, e étnicas,e a cidade era conhecida pela imoralidade e a devassidão, que crescia cada vez mais naquele lugar, e tudo isso refletiu na comunidade cristã naquela cidade, e dento dela tanto havia pessoas da classe baixa ou fracos (artesãos, trabalhadores da construção civil, pescadores, e desempregados), como da classe alta, ou os fortes(donos de propriedades, de escravos, de estabelecimentos comerciais,ou industriais, pessoas que possuíam influencia política e econômica), esse fato causou conflitos na comunidade aos quis Paulo vai combater arduamente em suas cartas, durante um ano e seis meses Pulo esteve nessa cidade e logo após sua partida Apolo esteve lá e pregou uma mensagem bem diferente de Paulo (1Cor.3:10-17), o fato de terem surgido outros pensamentos, também começaram a aparecerem os partidos que nós podemos ver o protesto de Paulo em sua carta .
Paulo classifica a teologia inspirada em Apolo como sabedoria de palavras que ameaça esvaziar a cruz de CRISTO , essa sabedoria está condenada a destruição e é incapaz de conduzir a salvação (1 Cor.1:17-19).
Porem os maires conflitos eram dentro da própria comunidade , entre os fracos e os fortes(pobres e ricos), Paulo se coloca de maneira bem visível como um defensor dos direitos dos pobres, e nessa defesa ele mostra o estrato social existente nessa comunidade, podemos ver:
Uma minoria de: Sábios segundo a carne= Núcleo mais culto e instruído da população.
Poderosos= Possuem estrato social elevado e influencias políticas.
De nobre nascimento= Acedência distinta, alta reputação, e pertencem a alta sociedade.
E uma maioria: Daqueles que eram considerados loucos.
Dos rejeitados.
Dos desprezados.
Dos que não são. (1 Cor.1:26-28)

Paulo tenta trazer a unidade desse corpo mostrando a importância de cada um independente do estrato social dos mesmos, ele tenta também resolver o problema da descriminação dos ricos com os pobres com relação à ceia. E do comer carne, geralmente quem bancava a ceia eram os ricos e os mesmos comiam a ceia antes que os pobres chegassem e Paulo exorta a serem mais compreensíveis, e também sobre o comer carne pois os pobres só podiam comer carne nas festas pagãs da cidade, ou nos banquetes promovidos pelo governo, porem os ricos tinham carne todos os dias à mesa, Paulo não aceitou a colaboração dessa comunidade parra o seu ministério como protesto a favor dos pobres da mesma , e em contradição à ociosidade pregada a favor da classe alta, ele mesmo se propôs a trabalhar para adquirir o seu sustento.

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Bibliogrfia:
REVISTA ESTUDOS BÍBLICOS Nª25 1990, VARIOS AUTORES
GREED THEISSEN SOCIOLOGIA DA CRISTANDADE PRIMITIVA 1985

segunda-feira, 8 de junho de 2009

APRESENTAÇÃO DO SEMINÁRIO “CORPUS PAULINUM”

1. Introdução ao Corpus Paulinum – Messias

1.1. As cartas de Paulo no Cânon do NT
1.2. Cartas protopaulinas e cartas deuteropaulinas
1.3. Cartas ou epístolas?
1.4. O apóstolo e as comunidades
1.5. Justificação pela fé: o centro do corpus paulinum?

2. Vida, formação e ministério de Paulo - Ronério

2.1. Vida
2.2. Formação
2.3. Ministério

3. Composição Social das Comunidades Paulinas – Josenélio (Introdução)

3.1 Contraste entre as comunidades de Tessalônica, Filipos e Corinto dentro de uma visão social

3.1.1. Tessalônica
3.1.2. Filipos
3.1.3. A instituição dos Líderes
3.1.4. Corinto

4. A relação de Paulo com as Mulheres – Márcia

4.1. Para Mesters
4.2. Para Fiorenza
4.3. Para Marga J. Stroher (“A Igreja na Casa Delas”) e Luise Schottroff (Exegese Feminista):
4.4. Considerações finais

5. Justificação pela fé – Ismael e Messias

5.1. O problema da justificação pela fé na pesquisa do NT
5.2. O judeu em Cristo
5.3. A dikaiosyné Theou
5.4. O debate atual


Equipe Corpus Paulinum: Ronério, Márcia, Messias, Josenélio e Ismael.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

COMPOSIÇÃO SOCIAL DAS COMUNIDADES PAULINAS I

COMPOSIÇÃO SOCIAL DAS COMUNIDADES PAULINAS

BASEADO NO LIVRO HISTÓRIA SOCIAL DO PROTOCRISTIANISMO, DE EKKEHARD W. STEGEMANN, E WOLFGANG STEGEMANN PUDE TER UMA IDÉIA DE QUE NAS COMUNIDADES PAULINAS ENCONTRAVA-SE UMA DIVERSIDADE DAS CLASES SOCIAIS DA ÉPOCA. INDO DO ESTRATO SUPERIOR ATÉ O INFERIOR.
ESSA ERA UMA DAS QUESTÕES MAIS DELICADAS PARA PAULO, QUE TANTO INSTRUIA OU RICO COMO AO POBRE COMO DEVERIA AGIR UM COM O OUTRO, NUMA COMUNIDADE ONDE TANTO HAVIA O ESCRAVO, COMO O SENHOR DE TERRAS, ONDE PODEMOS VER NA CARTA A FILEMOM QUE ERA UM PROPRIETARIO DE TERRAS E DE ESCRAVOS, E PAULO INTERSEDE POR ONESIMO ANTE ELE ,E COMO ONESIMO, TAMBEM VIVIAM OUTROS ESCRAVOS E ALGUNS DELES SÃO CITADOS EM CARTAS PAULINAS COMO: AMPLIATO, URBANO E TARSO(RM. 6:8-22).
DO EXTRATO SUPERIOR NÃO SE TEM MUITOS RELATOS ,POREM PODEMOS DESTACAR DESSES:
*FILEMOM, EM COLOSSOS ; QUE ERA DONO DE TERRAS E DE ESCRAVOS.
* PRICILA E AQUILA, EM ROMA; CASAL JUDAICO DE ARTIFICES QUE APESAR DE NÃO SER ENQUADRADO NO ESTRATO SUPERIOR TINHA BÕAS CONDIÇÕES FINANSEIRAS.
* ESTEFANAS, EM CORINTO; TAMBEM ERA PROPRIETÁRIO DE CASAS ONDE OS CRENTES SE REUNIAM.
* FEBE, QUE TINHA PERTENSIDO AO ESTRATO SUPERIOR BEM CENCREIA, TINHA RIQUESAS COMO TAMBEM INFLUENCIAS SOCIAIS E JURIDICAS, E TAMBEM PRSTAVA AUXILIO ECONÔMICO À COMUNIDADE E A PAULO, SENDO QUE O MESMO A CHAMOU DE PATRONA (TITULO DADO A PESSOAS QUE EXERCIAM ALTORIDADE SOBRE A COMUNIDADE)
* GAIO, CIDADÃO ROMANO, POSSUIA UM CASA SUFICIENTIMENTE GRANDE PERA REUNIR TODOS OS CRENTES EM CRISTO NA CIDADE DE CORINTO.
CONFIRMANDO ASSIM UMA ESCALA SOCIAL AMPLA NAS COMINIDADES PAULINAS.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

PALAVRAS INICIAIS

No conjunto dos livros que compõe o Novo Testamento ocupam lugar especial as 13 cartas ou epístolas consideradas como escritos paulinos. Juntamente com os evangelhos, estes livros foram os primeiros a serem aceitos nas coleções iniciais durante o processo de formação do cânon do NT. O lugar de destaque do corpus paulinum na tradição cristã justifica-se notadamente pela figura do próprio apóstolo Paulo, considerado por Rinaldo Fabris (1992) como o teórico e o organizador do cristianismo enquanto sistema teológico e Igreja universal. Raymond Brown (2004), de igual modo, considera-o como a figura mais influente na história do cristianismo depois de Jesus. O autor dos Atos dos apóstolos, provavelmente Lucas, dispensa a maior parte de sua obra para contar a trajetória do apóstolo, atribuindo-lhe uma condição de missionário modelo no contexto dos primórdios do cristianismo. Ademais, o conteúdo teológico auferido das cartas de Paulo tem fundamentado o desenvolvimento da teologia cristã ao longo da história da Igreja.


1 Tessalonicenses, Gálatas, Filipenses, Filemom, 1 e 2 Coríntios e Romanos, são consideradas por alguns biblistas[1] como epístolas protopaulinas, isto é, escritas pelo Paulo histórico, diretamente ou através de um secretário; ao passo que a autoria paulina de 2 Tessalonicenses, Colossenses, Efésios, Tito e as duas epístolas a Timóteo seriam de autenticidade discutível, portanto identificadas como deuteropaulinas, escritas provavelmente por discípulos de Paulo. Oscar Cullmann (2001), entretanto, não percebe razões suficientes para deixar de atribuir à pena de Paulo as redações de 2 Tessalonicenses, Colossenses e Efésios. A carta aos Hebreus, que por muito tempo foi incluída pela tradição entre as cartas de Paulo, já não é mais considerada como tal pela pesquisa bíblica. Em que pesem as divergências entre os estudiosos quanto à autoria paulina de alguns destes escritos, todos eles coadunam com a idéia de que estas 13 cartas estão no bojo da tradição e influência do apóstolo Paulo. Em todas elas são percebidos os temas característicos da teologia paulina, ainda que interpretados de modo específico, de acordo com a realidade de cada comunidade para a qual foram direcionadas.


Quanto à forma, a classificação dos textos paulinos tem como modelos de referência as cartas e as epístolas gregas, em relação às quais os escritos bíblicos guardam certa peculiaridade. Na literatura greco-romana as cartas eram caracterizadas pela troca de informações entre um escritor e um correspondente específico, separados um do outro pela distância. As epístolas, por sua vez, seriam escritos que, em geral, apresentavam um ensinamento moral a um público maior, sendo destinados à publicação[2]. A nosso ver, os dois gêneros influenciaram a redação paulina, de modo que, alguns dos livros aproximam-se mais das cartas, enquanto outros se assemelham mais a uma epístola. A estrutura das cartas, em geral, é constituída de fórmula introdutória, ação de graças, mensagem – núcleo principal da epístola – e fórmula conclusiva, podendo haver modificações deste esquema.


Na pesquisa sobre o corpus paulinum os estudiosos têm oferecido um destacado interesse à pessoa do autor, analisam a sua biografia e sua formação, buscando, assim, melhor compreender as relações do escritor com os contextos que o influenciaram, a saber, o grego e o judaico. Além do estudo da vida de Paulo, são cuidadosamente investigadas as comunidades destinatárias dos seus escritos, recorrendo-se a todos os registros e documentos que possam auxiliar a reconstituição do contexto histórico, social, político, cultural e religioso que engendravam os modos de ser e viver das comunidades paulinas.


Apontar um tema central no corpus paulinum é um risco do qual a maioria dos estudiosos procuram afastar-se. Entretanto, percebemos no decorrer das leituras que se concebe um acento especial à justificação pela fé. Para Mesters (2008), por exemplo, o centro da vida do apóstolo foi a busca pela justificação, primeiramente a partir da Lei e, após a experiência com o crucificado e ressureto, a partir da fé em Cristo. O conflito entre os cristãos-judeus e os cristãos-gentios também é reconhecido como uma preocupação marcante no corpus paulinum, o que de algum modo se relaciona com a temática anterior.

A título de palavras iniciais, o que fora apresentado até aqui supre a necessidade de nos apossarmos de informações básicas sobre as cartas de Paulo. Nos esforçaremos, doravante, para empreendermos algumas leituras no universo da tradição paulina, realizando recortes mais específicos, com os quais possamos trabalhar.

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[1]Georg Kümmel (1982), Raymond Brown (2004).
[2]Distinção apresentada por Deissmann apud Brown (2004).

BROWN, Raymond. Introdução ao Novo Testamento. Trad. Paulo F. Valério. São Paulo: Paulinas, 2004.
CULLMANN, Oscar. A Formação do Novo Testamento. Trad. Bertoldo Weber. 7ª ed. rev. São Leopoldo: Sinodal, 2001.
FABRIS, Rinaldo. As Cartas de Paulo. Trad. José Maria de Almeida. São Paulo: Loyola, 1992.
KÜMMEL, Georg Werner. Introdução ao Novo Testamento. Tradução da 17ª ed. por Paulo Feine e outros. São Paulo: Paulinas, 1982.
MESTERS, Carlos. Paulo Apóstolo: um trabalhador que anuncia o evangelho. 11ª ed. São Paulo: Paulus, 2008.



sexta-feira, 15 de maio de 2009

Café Teológico - "O Evangelho de Marcos"

A disciplina Novo Testamento I do Seminário Teológico Batista do Nordeste promoveu ontem à noite um Café Teológico com a presença do teólogo Marcos Monteiro.
Na oportunidade, o Evangelho de Marcos nos foi apresentado por ele de modo surpreendente e provocador. Uma comunidade cristã de agricultores e camponeses do norte da Palestina teriam ousado escrever um relato sobre o "Filho de Deus", que foi por eles reconhecido no carpinteiro de Nazaré. Esta afirmação teológica percorre todo o Evangelho de Marcos culminando na afirmação do oficial romano: "verdadeiramente este era o Filho de Deus". Assim, representa-se nas palavras do centurião a supremacia de Jesus sobre o próprio imperador romano, que se considerava Filho do Divino. Um importante membro do império declara que o Jesus Nazareno é que era o verdadeiro filho de Deus ao invés do poderoso César.
O Pr. Marcos conduziu a sua apresentação do evangelho através dos espaços e tempos que dão forma e beleza à construção literária. Entre os espaços, destacou especialmente a primazia da Galiléia, espaço periférico, como lugar de florescimento e irradiação da salvação em contraposição à Judéia e Jerusalém, o excessivamente corrompido centro de poder político-religioso. A possibilidade do novo surge da marginalizada Galiléia e não da rigidez e dogmatismo do Templo, principal símbolo da centralização do poder.
Os tempos em Marcos, segundo o professor, são marcados por fórmulas como “e” (kai); “logo” (eltus); e “aconteceu” (egéneto). O texto é montado a partir de várias narrativas e costurado pela comunidade por estas expressões que lhe conferem rapidez e agilidade, bem como refletem o modo próprio de narrar de uma comunidade agrária. Igualmente, estes tempos representam um certo imediatismo vivido pela comunidade diante do conturbado momento de guerra (66-70) e da iminência da derrota judaica frente aos romanos.
Por outro lado, os tempos presentes no evangelho sugerem a possibilidade da irrupção do novo a qualquer momento – “e aconteceu”, “veio”. A história pode contar com os imprevistos e surpresas de Deus. Não há como definir o começo nem o fim da história.
A ousada comunidade de Marcos nos apresenta ainda a ação libertadora de Jesus frente ao sábado, sendo expressa em atos subversivos contra o legalismo opressor dos portadores da Lei. O Jesus da comunidade de agricultores e camponeses restitui o sentido vivificante do dia designado à festa e ao descanso. Ele restaura e liberta pessoas neste dia, embora neste mesmo dia haja quem trame a sua morte.
Monteiro concluiu brilhantemente a sua preleção exaltando a vitória de Jesus sobre a cruz, máquina de matar do império, através da entrega do seu corpo. O perverso símbolo que resume o poder e a violência imperial é transformado em símbolo de amor e doação. Ao terceiro dia o corpo de Jesus ressuscita glorificado, superando a máquina de matar.

sábado, 25 de abril de 2009

O Blog Corpus Paulinum...

A disciplina Novo Testamento I, integrante do Bacharelado em Teologia oferecido pelo Seminário Teológico Batista do Nordeste - STBNe (Feira de Santana/Ba), através dos seus docentes (Jorge Nery e Ágabo Borges), propôs a criação de blogs como instrumento metodológico para o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem no presente curso.
A turma (2007.1) foi dividida em equipes com temas respectivos, onde cada grupo incumbiu-se de criar blogs em torno de uma temática designada.
O presente blog foi criado pela equipe Corpus Paulinum, a qual se debruçará no estudo dos textos neotestamentários reconhecidos como escritos pelo apóstolo Paulo, ou seus discípulos.
Este espaço servirá para a "socialização" de artigos e textos produzidos pela equipe, assim como de indicações bibliográficas pertinentes ao tema e sites relacionados.
Os prováveis interlocutores deste blog são os estudantes que compõe a equipe Corpus Paulinum, os estudantes da disciplina e do STBNe em geral, os professores do seminário, e ainda, estudantes e professores de outras instituições teológicas e demais interessados na temática, os quais poderão contribuir com suas críticas, sugestões e indicações bibliográficas.