quarta-feira, 17 de junho de 2009

Apóstolo Paulo: vida, formação e ministério.

A vida
O apóstolo Paulo tem a sua vida dividida da seguinte maneira: do nascimento aos 28 anos – judeu observante; dos 28 aos 41 anos – o convertido fervoroso; dos 41 aos 53 anos – o missionário itinerante e dos 53 até a morte, presumivelmente aos 62 anos – o prisioneiro e organizador das comunidades. [1] (MESTERS, Carlos. Paulo Apóstolo: Um Trabalhador que anuncia o Evangelho). Ou ainda: estudante farisaico; rabi perseguidor; aprendendo o Cristianismo; líder missionário e orientador das igrejas. [2] (ROBERTSON, A. T. Épocas na vida de Paulo).
Paulo nasceu em Tarso, região da Cilícia, Ásia Menor, atual Turquia. Tarso era uma cidade grande. Tinha 300.000 habitantes e suas ruas eram estreitas e as casas pequenas. Era um importante centro cultural e comercial. Possuía um porto ativo e estava localizada na estrada romana que ligava o Oriente ao Ocidente. Em Tarso a cada quatro anos realizavam-se os jogos de atletismo: corridas, lutas, lançamento de disco, tiro ao alvo etc. Tarso é hoje um pequeno povoado.
Em quase todas as cidades romanas havia bairros dedicados aos judeus, cada um com uma sinagoga. A comunicação entre a sinagoga e o Templo em Jerusalém era muito intensa. Isto explica o fato de Paulo ter nascido em Tarso, mas educado em Jerusalém. Como judeu foi criado dentro das exigências da lei de Deus e das tradições paternas. Os judeus da diáspora eram praticantes. Estima-se que a população judaica na diáspora era o dobro dos habitantes judeus na Palestina. [3] (BORNKAMM, Günther. Paulo: vida e obra). Paulo descende de uma família rigidamente judaica que vivia na diáspora.

A formação
O apóstolo Paulo recebeu sua formação básica na casa dos seus pais, na sinagoga e na escola. Além disso, recebeu formação em Jerusalém, estudando aos pés de Gamaliel. Mas também recebeu a educação de um grande centro como era Tarso. Por certo, os jogos realizados em Tarso influenciaram Paulo, pois ele cita-os fazendo comparação: 1 Coríntios 9.25, Filipenses 3.12-14, 1 Coríntios 9.26, 2 Timóteo 4.7. A preparação teológica no contexto judaico também deu a Paulo a aprendizagem de uma profissão, daí a formação de Paulo para o artesanato com o couro. [4] (BORNKAMM, Günther. Paulo: vida e obra).
Paulo era fabricante de tendas, ofício que aprendeu com o pai. Paulo era cidadão romano, pois seu pai ou avó pôde adquirir a cidadania. Como cidadão era membro oficial da cidade. Os seguintes títulos situam Paulo entre a elite: cidadão romano, líder nato, membro ativo da comunidade, formado para tomar conta da oficina do pai.
O pai de Paulo deve ter sido um judeu que serviu como “auxiliar”, precisamente como um fazedor de tendas, botas e cobertores de couro para o exército romano e ganhou a cidadania por algum serviço especial. [5] (GILLIAN, C. The social status of Pau)l. Portanto Paulo provém de uma família que goza de seus direitos plenamente.

O ministério
Paulo tinha 28 anos de idade quando da sua experiência. Nesta época tinha poder e prestígio. Aos 41 anos tornou-se um missionário. Neste período o imperador era Cláudio (41-54) e depois Nero (54-67). Partindo do itinerário apresentado por Atos, Ronald Rock chega à conclusão que Paulo viajou cerca de 10 mil milhas (16 mil km). Nestas viagens encontrou funcionários do governo, mercadores, peregrinos, enfermos, carteiros, turistas, escravos fugitivos, prisioneiros, atletas, artesãos, mestres, estudantes etc. [6] (ROCK, Ronald. The social context of Paul's ministry). As viagens eram muito difíceis. Só as grandes estradas romanas é que possuíam hospedarias a cada 30 km para oferecer segurança aos viajantes. [7] (MESTERS, Carlos. Paulo apóstolo: Um trabalhador que anuncia o evangelho). Um navio antigo comum podia fazer 160 km por dia. A cavalo percorria-se cerca de 35 a 40 km por dia e a pé de 25 a 30 km. [8] (MEEKS, Wayne A. Os primeiros cristãos urbanos: O mundo social do apóstolo Paulo).
Uma das marcas indiscutíveis de Paulo foi o sofrimento que teve durante sua vida ministerial. Suas cartas relatam estes sofrimentos: 1 Coríntios 4.9-13 – marcas da cruz de Cristo; 1 Coríntios 16.8-10 – adversários e tribulações; 1 Coríntios 15.32 – lutas; 2 Coríntios 7.5 – conflitos e temores; Gálatas 4.11-15 e 2 Coríntios 12.7 – enfermidades (talvez acessos de malária); 2 Coríntios 11.23-33 – elenco completo de sofrimentos: prisões; açoites; perigos de morte; fustigado com varas; apedrejado; naufrágio; perigos nas viagens, nas cidades, nos mares, entre judeus, entre gentios, nos rios; fome e sede; frio e nudez; etc.
Além dessas referências, encontramos declarações paulinas sobre a fraqueza: “Deus escolheu as coisas fracas do mundo” (1Co 1.17); “Foi em fraqueza que estive entre vós” (1Co 2.3); “Sinto prazer nas minhas fraquezas” (2Co 12.10); e outros. Paulo aprendeu que a “fraqueza humana proporciona o melhor motivo para a manifestação do poder de Deus”. [9] (SANDERS, J. Oswald. Paulo: o líder).
O que mais influenciou a teologia de Paulo não foi sua experiência de conversão, seus estudos etc., mas, sim, a soma de todas as vivências ministeriais do apóstolo, especialmente sua profissão como artesão, sua origem étnica, suas experiências como prisioneiro e os contatos com os povos das cidades e províncias submetidas ao poderio do império romano. [10] (TAMEZ, Elsa. Contra toda condenação). Dessa forma, podemos perceber que o contexto em que o apóstolo exerceu seu ministério foi determinante para a elaboração das lições que ele deixou escritas em suas cartas, sobretudo as sobre o ministério.
Como prisioneiro teve a possibilidade de tomar conhecimento dos termos jurídicos e forenses da época. Muitos destes termos são usados nas suas cartas para falar da justiça de Deus, falar de castigo, julgamento etc. Como prisioneiro e cidadão romano teve a possibilidade de defender-se e assim apresentar o evangelho. Nem sempre gozou do privilégio de cidadão romano, pois ele mesmo afirma que passou por açoites, varadas, sofrimentos diversos nas prisões etc.
A cruz, na pregação de Paulo (1Co 1.18-25), evidencia as fraquezas do apóstolo e a experiência que teve com a mensagem da cruz. Soube entender a mensagem da cruz e descobriu que não podia falar da vida na sua plenitude sem falar da cruz. No texto de 1 Coríntios ele declara o significado da cruz para os cristãos.
“É sempre sobre a fraqueza e humilhação humana, e não sobre a força e confiança do homem, que Deus escolhe edificar seu Reino; e ele pode usar-nos não meramente a despeito de nossa mediocridade, incapacidade e enfermidades desqualificadoras, mas precisamente em virtude delas. É isto uma descoberta emocionante que pode revolucionar nosso panorama missionário.” [11] (STEWART, James S. Thine is the Kingdom).


Referências Bibliográficas
[1]
MESTERS, Carlos. Paulo Apóstolo: Um Trabalhador que anuncia o Evangelho. São Paulo, SP: Edições Paulinas, 1991, p. 13.
[2]
ROBERTSON, A. T. Épocas na vida de Paulo. Rio de Janeiro, RJ: JUERP, 1982.
[3]
BORNKAMM, Günther. Paulo: vida e obra. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1992, p. 33.
[4]
BORNKAMM, Günther. Paulo: vida e obra. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1992, p. 40.
[5]
GILLIAN, C. The social status of Paul. The Expository Times, University of Liverpool, p. 110.
[6]
ROCK, Ronald. The social context of Paul's ministry. Philadelphia: Fortress Press, 1980, p. 26.
[7]
MESTERS, Carlos. Paulo apóstolo: Um trabalhador que anuncia o evangelho. São Paulo, SP: Edições Paulinas, 1991, p. 37.
[8]
MEEKS, Wayne A. Os primeiros cristãos urbanos: O mundo social do apóstolo Paulo. São Paulo, SP: Edições Paulinas, 1992, p. 35.
[9]
SANDERS, J. Oswald. Paulo: o líder. São Paulo, SP: Editora Vida, 1986, p. 174.
[10]
TAMEZ, Elsa. Contra toda condenação. São Paulo, SP: Paulus, 1995, p. 68.
[11]
STEWART, James S. Thine is the Kingdom. Edinburgh: St. Andrews Press, p. 23.

2 comentários:

  1. Ronério, bom trabalho!
    A exposição da vida de Paulo nos possibilitou elucidar a relação entre autor e obra, assim como um pouco da vivência deste judeu/grego, cosmopolita!

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  2. Quero registrar a minha alegria nesse semestre no STBNe, por todo conhecimento adquirido na matéria N.T.1, sob a orientação dos discentes Jorge Nery e Dr. Ágabo Borges. Sobre a nossa equipe (Corpus Paulinum), foi uma experincia impar trabalhar com essa turma sob a direção do colega Messias Brito que com grande conhecimento deu-nos o direcionamento exato para podermos fazer uma boa pesquisa, como também uma boa apresentação. Parabens a todos e boas férias. Um grande abraço do seu servo Ronério Dias.

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